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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Festival No Ar Coquetel Molotov - 1º dia

Júlia Says com a participação de Guizado

por Tiago Lopes | fotos de Coraline Sabourin

O Coquetel Molotov desse ano já surpreendeu antes mesmo de começar. Os ingressos para a primeira noite do festival se esgotaram 4 dias antes do início, fazendo a alegria dos cambistas - que dispuseram suas preciosidades na entrada do evento por uma quantia de até R$ 60,00, 100% a mais do que o real valor do ingresso – e aumentando ainda mais as expectativas para o mais esperado show do festival: a estréia em palcos do Marcelo Camelo. Porque era óbvio que o suposto ex-hermano foi a causa para a alta valorização da primeira noite do festival, o que se queria descobrir mesmo era como todo esse público se comportaria na hora da execução do Sou.

Antes de falar do show que iria fechar a noite no teatro da UFPE, vamos às bandas que não comoveram tanto assim o público, mas que foram tão competentes (em alguns casos, até mais) quanto a principal atração. Os pernambucanos do Júlia Says, que usavam programações eletrônicas, bateria e uma guitarra e um trompete de vez em quando, começaram com um show meio morno. Se tivessem feito o “de vez em quando” das guitarras aparecer bem mais, as músicas teriam provocado um pouco mais de efeito no público que já começava a lotar o teatro, mas não respondia tão bem ao eletrônico de vocal um tanto inaudível da banda.

Cidadão Instigado

Aí entra o Cidadão Instigado, banda liderada pelo cearense Fernando Catatau, que foi chamada horas antes do evento para substituir os cuiabanos do Vanguart – ao que parece, pediram mudança nas datas das passagens de avião e a produção do Coquetel Molotov não quis atender ao pedido, feito apenas uma semana antes do festival; Hélio Flanders, vocalista do Vanguart, explicou na comunidade da banda no Orkut que o custo adicional da mudança de datas seria de R$ 600,00 por cabeça. Mas a troca se mostrou benéfica como pouca coisa do festival: o Cidadão Instigado fez um dos melhores shows dessa edição, tocou grandes músicas de um vindouro novo disco, executou as melhores dos seus dois discos anteriores e fez barulho, muito barulho mesmo. Como defeito, uma parte do público que marcava cadeiras pra ver o show do Marcelo Camelo e prestava pouca atenção à intricada, mas bastante funcional mistura de samba, funky, brega e o melhor em distorção de guitarras. Quem estava gostando, se manifestou em aplausos e mais aplausos ao fim de cada música, deixando o Catatau com um sorriso largo no rosto ao fim do show.

Shout Out Louds

Depois, a primeira banda da Invasão Sueca, projeto que existe desde a edição de 2007. A seleção desse ano foi um tanto mais consistente e visível, como se pôde ver desde a apresentação do Shout Out Louds, que fez todo mundo se levantar das cadeiras e lotar a parte da frente do palco. A animação do público e a movimentação excessiva dos músicos no palco quase conseguiram esconder certa pasmaceira no som feito pelos suecos, provocada pela execução de inúmeros clichês indies que a banda apresentou, quase todos saídos da cansativa reciclagem de bandas como The Cure, The Smiths e New Order. Maior engodo do festival.

A essa altura, a movimentação dentro do teatro da UFPE, capaz de comportar 3.000 pessoas, já estava difícil, bem difícil. A insistência do público de permanecer em pé em frente ao palco para esperar o Marcelo Camelo, atrapalhando a visão de quem estava sentado nas primeiras filas, provocou irritação tanto na produção do evento, que pediu praticamente a cada um que arranjassem um lugar para se sentar, como no público, que não entedia porque tinha que aplacar a grande ansiedade sentado numa cadeira limitadora de expressões de adoração.

Eis que o Marcelo Camelo entra no palco, sozinho, com seu violão. O altíssimo barulho do público, que gritou e aplaudiu por alguns bons minutos, anunciou o esperado: toda a excessiva adoração que existia pelo Los Hemanos foi transferida para o Camelo sem nenhuma perda, ainda mais em Recife, um dos principais redutos desse público (Camelo admitiu, em certa altura do show, que “tinha de ser aqui, tinha de ser hoje, tinha de ser no Recife e tinha de ser com vocês”). Quando o Hurtmold, banda que está acompanhando o Marcelo Camelo nos shows da sua primeira turnê, entrou no palco a partir da segunda música (“Téo e a Gaivota”, faixa de abertura do disco e a que guarda mais semelhanças com o som feito pela banda de apoio), o público fez questão de mostrar que não iria recuar por um momento sequer nas demonstrações de adoração. A cada mudança de andamento nas músicas, aplausos e gritos que beiravam a insanidade e chegavam a incomodar. Apenas uma semana antes do show, dez das quatorze faixas da sua estréia solo, Sou, foram liberadas para audição no MySpace. A grande maioria do público já cantava em uníssono todas elas e, em alguns momentos, tão alto que mal se ouvia a voz do Camelo. Quando as músicas ainda desconhecidas de quem não havia comprado o disco foram tocadas, o público não se incomodou em substituir o barulho de suas vozes por palmas e mais palmas.

Marcelo Camelo e Mallu Magalhães

Se a comoção já parecia exagerada, atingiu seus picos quando a Mallu Magalhães foi convidada para entrar no palco e cantar “Janta”. Enquanto eles se mantinham abraçados por minutos a fio, o barulho aumentou tanto que chegou a provocar arrepios. Quando o Camelo e a Mallu se separaram para dar início à música, ela não conseguiu segurar o choro. E o barulho da platéia só aumentou ainda mais. O Camelo já havia começado a música e, quando chegou à segunda estrofe e momento da Mallu, ela ainda não havia se recuperado da emoção inicial e não conseguiu cantar. O silêncio dela sobre o dedilhando do violão do Camelo, criou um momento único no festival e a platéia se mostrou realmente acrobata para conseguir, ao mesmo tempo: gritar, bater palmas, cantar junto e chorar. Depois de “Janta”, Camelo e mais uma ainda irrecuperável Mallu tocaram “Morena”. E, vocês adivinharam, a platéia se superou mais ainda em escândalo à audição de uma música do Los Hermanos. Mais três da sua suposta ex-banda ainda foram executadas, todas do disco 4. Marcelo Camelo segurou a mais animada faixa do Sou para o encerramento: “Copacabana”, com seu clima de frevo, pôs fim a um dos shows mais memoráveis da história do Coquetel Molotov.

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